Sim, este texto terá alguns clichês e não me envergonho disso.
Não escondo que sempre quis ser professora. Não foi a falta de opção o que me trouxe para a sala de aula. Foi vontade, mesmo. E todo novo ano escolar minhas esperanças se renovam, assim como minha vontade de fazer bem o que escolhi fazer: ser a “prô”, a “fessôra”, a “teacher”.
Como aluna, alguns casos me marcaram. Por exemplo, no primeiro ano do ensino fundamental, uma colega fez cocô nas calças porque a professora não a deixou ir ao banheiro. Ali fiz uma promessa a mim mesma que não faria isso no futuro. Mas como não deixar virar bagunça?
Simples: faço com meus alunos um compromisso que é selado todo primeiro dia de aula: eles falarão a verdade, caso tenham uma emergência de qualquer ordem que faça com eles tenham que ir ao banheiro. Como eu sei se é verdade? Aí que está. Eu não sei. Mas deixo clara a importância de um compromisso, de dar a palavra e cumprir para construir para si um bom nome.
O interessante é que não foram poucos os dias em que algum aluno pediu para sair e eu, inevitavelmente perguntei: “É uma emergência?” – para ouvir: “Não, “fessôra”, posso esperar”. Sempre penso que esse pequeno diálogo é, inclusive, uma oportunidade para o autoconhecimento do aluno que pode aprender a analisar suas próprias necessidades fisiológicas.
Claro que, até nisso, alguns pais costumam dar problemas. Acreditem ou não: há aqueles que querem que eu deixe seus filhos irem ao banheiro mais de uma vez por aula de 50min. Cordialmente, respondo que não – excetuando-se necessidades médicas, claro. Mas se elas não existem, não há nada que justifique um ser humano ter que fazer xixi duas vezes em um intervalo de menos de uma hora.
Muitas vezes, para nós, profissionais da educação, fica claro que mais desafiador do que lidar com os alunos é lidar com certos tipos de pais que insistem em não saber que, no mundo, seu “alecrim dourado” é apenas mais uma criança/adolescente a ser tratada(o) igual aos demais. Nem mais, nem menos.
Incrível como sempre há aqueles que querem privilégios para seus filhos. Alguns pais ainda estão em processo educativo e dificultam a aprendizagem de seus próprios filhos. O que nos traz à questão da proibição do uso do celular na escola pelos alunos. Apesar da lei federal que visa garantir um desenvolvimento neuropedagógico adequado aos nossos jovens, observamos que não há um ofício sequer por parte de muitas secretarias de educação dizendo como a escola deve agir: quem vai recolher o celular, se o aluno (ou seus pais) insistirem que o objeto esteja na escola? Como se vai guardar? Como se vai registrar? São muitas as dúvidas e o medo de ficar tudo na responsabilidade do professor (como sempre).
Quando falei sobre tal proibição em minhas redes sociais, observei um dado interessante: alguns pais que reclamam dizem que assim seus filhos não poderão gravar os tais professores malvadões, “doutrinadores”. Esses ignorantes não sabem que sequer conseguimos convencer seus filhos a fazerem o dever de casa e nos atribuem superpoderes de manipulação. Risível e trágico.
Por outro lado, observei pessoas em idade escolar dizendo que sem o aparelho não possuem amigos e que possuem dificuldade extrema de se socializar. Esse dado, sim, me pareceu algo a fazer parte das estratégias da escola: observar esses alunos e desenvolver intervenções que possibilitem com que eles não fiquem isolados. Desafio, sim. Mas escola também é local de aprender a conversar com outros e socializar: são habilidades indispensáveis na vida.
Mas a verdade é que, mesmo reconhecendo todos os desafios inerentes à profissão, todo novo ano letivo me encho de esperanças, coloco minha legging ou meus vestidões largos, pego meu microfone e meu material e sigo alegre para a escola para receber mais uma vez meus alunos, a razão de ser da minha profissão.
Profa. Érica
@ProfaEricaCL
