A violência contra a mulher é naturalizada em nossa sociedade. Recentemente, um amigo aprovado para a Polícia Civil comentou comigo o quão chocado está pelo número absurdo de mulheres em situação de violência dentro das próprias casas: é, de longe, o tipo de ocorrência que ele mais tem sido chamado a atender.
Somos tão violentos que, às vezes, temos dificuldades em reconhecer ações violentas de escala menor – se não deixa marca, tendemos a desconsiderar e minimizar, o que é um grave erro.
Violência psicológica não faz marcas visíveis. Patrimonial, também, não. Assédio, muito menos. Mas todos são violências com impactos terríveis na vida de mulheres de todas as idades, das menores às idosas.
Sobre o assédio vemos que ainda há quem insista, por exemplo, que assobios e palavras dirigidas às mulheres nas ruas são “elogios” – em vez de raciocinar que em um país onde as mulheres são tão agredidas, tais ações contribuem para sua sensação de insegurança atrapalhando, inclusive, nossa livre movimentação.
Nesse assunto, todos vimos estarrecidos como a normalização da posse masculina sobre o corpo feminino é tão grande que mesmo ídolos de futebol, homens ricos e que poderiam facilmente ter diversas parceiras sexuais, pagando ou não, são envolvidos em casos de estupro. Robinho e Cuca, por exemplo, falando dos condenados por estupro coletivo. Interessante como, mesmo tendo fugido das punições dadas por tribunais em outros países, em julgamentos em que tiveram a oportunidade de ampla defesa, foram recebidos em clubes e torcidas aqui no Brasil como se nada devessem em lugar algum – apenas nos últimos tempos se viu algum clamor que causaram a eles entraves profissionais.
Há ainda Daniel Alves, aguardando julgamento, mas com provas contundentes contra si.
Falando no caso dele, aconteceu em uma boate onde seus amigos se divertiam quando algumas mulheres chegaram ao camarote. Segundo alegado, uma das mulheres foi levada ao banheiro e vitimada por ele.
Levando isso em consideração, pudemos observar um movimento mundo afora e Brasil adentro que visa justamente proteger as mulheres, seja espontaneamente por parte de proprietários e proprietárias, seja com a aprovação de leis ou recomendações para que bares e restaurantes tenham procedimentos específicos para proteger suas clientes que se sintam ameaçadas por alguém ou que estejam em situação de risco.
Houve uma inciativa semelhante em Lafaiete, na nossa Câmara. Projeto proposto pela vereadora e também advogada Damires, que não imporia gastos aos estabelecimentos, mas faria com que todos tivessem estratégias e ações para proteger alguma cliente em situação de risco.
Ao ser votado, foi arquivado. Nossos vereadores, em sua maioria, não consideraram necessário que ações assim fossem tomadas em bares e restaurantes, mesmo em face de tantos descalabros que vitimam mulheres em todos os ambientes, inclusive, em nossa Lafaiete.
Uma situação assim me deixa indignada – quando boas ideias são desprezadas e, mais uma vez, vemos a causa feminina ser tratada como algo menor, sem importância. Como algo que não vale o esforço. O medo de se melindrar com alguns poucos estabelecimentos que possam vir a ser resistentes – sabemos que pessoas assim existem – faz com que se desprezem ações que poderiam proteger qualquer de nós em face da possibilidade de ser vítima de um crime.
Como eu sempre digo: discursos são muito bonitos. Seja em prol das mulheres, seja pela valorização da educação.
Mas eu gosto mesmo é de ver na prática. E nesse caso, infelizmente, a prática foi falha.
Profa. Érica
@ProfaEricaCL
