Proponho uma provocação, uma leve reflexão sobre as comemorações que ocorrem no mês de março, em Conselheiro Lafaiete, na intenção de despertar a cidade para sua história e desdobramentos.
No mês de março, dos anos de 1834, 1881 e 2009, aconteceram fatos que determinaram mudanças coletivas na região da antiga Queluz (de Minas) e que merecem nossa atenção. Em 28 de março, de 1834, nascia na Fazenda dos Macacos o caçula do Barão de Pouso Alegre, o menino Lafayette, irmão de Washington. Esse garotinho teria uma vida intensa no cenário político e jurídico, vindo a ser uma das maiores autoridades sobre o Direito no Brasil e muito conceituado no mundo. Na vida prática foi advogado, jornalista, editor, escritor e acadêmico. Na política foi ministro, presidente de duas províncias (Ceará e Maranhão), conselheiro do Império e juiz internacional, além de representar o Brasil na conferência pan-americana nos Estados Unidos. Pai de família, avô e amigo de muitos, o Dr. Lafayette Rodrigues Pereira registrou positivamente sua vida na história do país, de modo que seu nome é prestigiado em muitos lugares, para além da sua cidade natal.
Também em março, no dia 29, em 1881, a família Imperial e sua comitiva estiveram em Queluz, sendo recebidos com muita festa e celebrações pelos moradores locais, conforme consta no diário do Imperador D. Pedro II, aliás, é dele o relato de ter ouvido uma apresentação de violeiros, que o encantaram com o talento e o som dos instrumentos feitos na cidade. O banquete servido à comitiva imperial foi produzido por um fazendeiro de Santo Amaro (atual Queluzito) Sr. Felippe da Silva Ferrão, no valor de 1.346.746,00 (um conto, trezentos e quarenta e seis mil, setecentos e quarenta e seis réis), quantia que ele só recebeu depois de um ano, paga pela Câmara municipal. As poucas notícias registradas informam que os visitantes imperiais ficaram hospedados em algumas residências dos maiores políticos queluzenses, despertando muitas curiosidades pelo assunto. Mas essa visita demonstrou que a cidade estava na mira do Império e logo viria uma novidade para reforçar essa atenção.
A ferrovia já estava em construção, na antiga Queluz, desde 1874, chegou no final do século XIX, espalhando cores, modos, costumes, idiomas, crenças, fisionomias, paladares e profissões tão diversas quanto possíveis nas regiões da Mata, Vertentes, Paraopeba e Central. A parte baixa da cidade de Queluz, deixou de ser uma mera extensão rural, tornando-se promissora ao inaugurar uma estação ferroviária da Estrada de Ferro D. Pedro II (1883), passou a ser o bairro Lafayette, o mesmo nome dado à estação.
Em poucas décadas ocorreu o inevitável, a cidade de Queluz (de Minas) urbanizou-se muito, a indústria fortaleceu a economia e o nome da cidade mais uma vez mudou, passou a ser Conselheiro Lafaiete, em 27 de março, de 1934. Foi uma homenagem do governo mineiro ao centenário de nascimento de Lafayette Rodrigues Pereira, festejada imensamente pelos moradores da parte baixa, principalmente os ferroviários da Central e as colônias de imigrantes italianos, turcos, sírios, libaneses, árabes, espanhóis, portugueses, franceses, chilenos e indianos. Em contraste à alegria houve a decepção dos moradores da parte alta, que descontentes com a novidade, protestaram em nome das tradicionais famílias queluzenses, desmerecendo o homenageado com mentiras e xingamentos, segundo jornais da época.
No início do século XXI, o município recebeu o título de “Cidade das Violas de Queluz” e com a finalidade de homenagear as famílias fabricantes e os tocadores, o Legislativo criou, em 29 de março, de 2009, o dia municipal das “Violas de Queluz”, aos 128 anos da visita imperial, demonstrando o reconhecimento pela arte popular que colocou a cidade em destaque artístico e cultural, para além de Minas Gerais.
Atualmente as dúvidas estão mais frequentes diante das “fake news” e dos “achismos”, que dividem e confundem a opinião pública sobre as notícias, as personalidades e os fatos. O “não saber” é preocupante e torna mais complicada a ação de ensinar História de forma crítica e consciente. Se o povo não conhecer sua história, ainda que de modo resumido como feito aqui, se não tiver acesso às informações, dificilmente terá orgulho de ser lafaietense e não saberá reconhecer sua existência enquanto cidadão/dã, não se perceberá como agente ativo de sua trajetória, deixará de exercer seus direitos, sua arte, sua fé e seus costumes e sufocará suas origens. Comemorar sabendo a história, é bem melhor!
Profa. Mauricéia Maia
Mestranda em História
Ex-secretária Municipal de Cultura de Conselheiro Lafaiete
Foto de capa: Ihgmg.org.br