Hoje eu vi dor nos olhos de um pai. Vi sofrimento em forma de lágrimas escorrendo pelo rosto de uma mãe. Um lamento quase silencioso saindo do fundo do coração que penetra de forma cortante a alma de quem ouve.
Ouvi a angústia de quem não quer se desesperar, mas perde as forças em raros momentos em que, humanos que sois, busca respostas sem perder a fé. Salta aos olhos e no som das vozes embargadas a inconformidade diante de tamanha perda que poderia ser evitável.
Para se fortalecer a mãe pede que orem por ela. Ato que pode fazer a diferença num momento em que impulsionados pela contaminação de um mundo de hipocrisia muitos mostram a face mais cruel do ser humano julgando, apontando, condenando, sem mensurar os estragos feitos na vida de quem já perdeu demais.
Os gestos contidos, um brinquedo nas mãos, as fotos espalhadas na mesa. O quarto ainda sem nenhuma alteração. A mochila da escola sobre a cama e seus super-heróis espalhados.
A imaginação do pequeno Davi dizia que ele era um escritor de gibi. E que aos 16 anos iria morar em Caldas Novas. Local que amava e sempre escolhia para passar as férias. Provavelmente em seus sonhos se imaginava como seu personagem favorito deslocando de um lado para outro pendurado em resistentes fios imobilizando os vilões que ameaçassem seu reino encantado de toboáguas.
A partida tão precoce do menino que amava o Homem – Aranha, que era obediente e feliz, deixa um pai arrasado, uma mãe despedaçada, um irmão com saudade, tios, avós, professores e vizinhos, incrédulos. Até quem não o conhecia sente uma proximidade diante da dor.
Davi era só uma criança querendo brincar.
Gina Costa
Jornalista
Mãe solidária na dor