Tive uma crise de riso de perder o fôlego. Existem situações que quando relembradas desencadeiam gargalhadas descontroladas. Não curto economizar risada. Rir continua sendo o melhor remédio para aliviar todo tédio. Também rio das rimas articuladas nos textos que escrevo, rio e percebo antecipadamente até as figuras de linguagem que posso usar. Agora mesmo utilizei o código para falar do próprio código. Metalinguagem na veia!
Escrever é gozo transcendental entre tempo e pensamento. Também amo as metáforas. Gilberto Gil tem uma composição primorosa Metáfora que diz o seguinte:
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: lata
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: meta
Pode estar querendo dizer o inatingível
Quando ouvi essa música pela primeira vez fiquei impactado com o jogo de palavras e com as possibilidades filosóficas e estéticas da letra. Gilberto Gil é a aliteração mais linda do Brasil! E suas reflexões cantantes revelam que é necessário andar com fé porque ela não costuma falhar! Gil é um poeta que potencializa a linguagem popular, as tradições de uma Bahia desigual mas incrivelmente abençoada por um Santo que Deus deu. Suas músicas são sentidas e reinterpretadas mundo a fora. Uma legião de canções consagradas pelo imaginário popular, outras pouco conhecidas pelo grande público como Metáfora.
Que fique muito mal explicado
Não faço força para ser entendido
Quem faz sentido é soldado
A compreensão do poema de Moreira e sua ironia contextualizada dialogam com uma intertextualidade ambivalente que gera o duplo sentido. Quase morri de rir com gargalhadas hiperbólicas. Rir de si mesmo é uma catarse sem precedentes conceituais.
Éverlan Stutz é poeta, ator, jornalista, professor e compositor