Mais uma vez todos nós ficamos assustados e entristecidos com mais um FEMINICÌDIO ocorrido em uma cidade de nossa região. Dessa vez a vítima foi uma jovem de 17 anos que, teve a vida ceifada pelo ex-namorado de forma brutal e com certeza sem chance de defesa. Já passei por isso por duas vezes na minha família, quando nas décadas de 70 e 80 duas tias minhas foram assassinadas em Lafaiete e em uma delas fui o primeiro a chegar ao local e pude ver estampado em seu rosto o olhar do desespero, de quem ia morrer sem ter forças suficientes para se defender, a não ser tentar se esconder atrás de um guarda roupa.
Fatos como esses ocorrem no dia a dia de todas as cidades do mundo e nos espantamos mais quando eles ocorrem perto da gente. O texto “NÃO AS MATEM”, escrito por Lima Barreto em 1915, já retratava esse tipo de crime e transcrevo para os leitores e leitoras dessa coluna para mostrar que nada mudou em mais de um século. Dizia ele:
“Todos esses senhores que matam mulheres, parece que não sabem o que é a vontade dos outros.
Eles se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer. Se julgam muito diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é que estes na maioria das vezes, nos arrebatam apenas o dinheiro, enquanto esses tais noivos, maridos e namorados assassinos querem tudo que é de mais sagrado em outro ente, de pistola na mão.
O ladrão ainda nos deixa com vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais passionais, porém, nem estabelecem a alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não; matam logo.
Sem dúvida que esses cidadãos são idiotas. É de supor que, quem quer casar, deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa-vontade, sem coação de espécie alguma, com ardor até, com ânsia e grandes desejos; como é então que se castigam as moças que confessam não sentir mais pelo namorado, noivo ou marido amor ou coisa equivalente?
Todas as considerações que se possam fazer, tendentes a convencer os homens de que eles não têm sobre as mulheres domínio outro que não aquele que venha da afeição, não devem ser desprezadas.
Esse obsoleto domínio à valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de indignação.
O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas, a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido.
Todos os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de generalizar a eternidade do amor.
Pode existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver ou de porrete, é um absurdo tão grande como querer impedir que o sol varie a hora do seu nascimento. Deixem as mulheres amar à vontade. Não as matem pelo amor de Deus”!
Tô Sabendo e Vou Falar!
Aaron Fênix