Carnaval é a liberação de sentimentos reprimidos anualmente pelo povo. Ninguém está nem aí para nada! Cada um vende seu sonho e vive sua loucura, despido de cotidiano, alheio à preocupação. O mundo fica cheiroso, colorido, lúdico e louco. Meio que iguala rico e pobre, branco e preto, homem, mulher (e suas misturas).
Liberta-se o vapor da panela de pressão interior de cada um (senão o povo explode, ainda mais em épocas tão tensas). Problemas se anestesiam. Ampliam-se os sentidos, o sensorial dita as regras. A loucura é botada para fora, permite-se ser diferente (ou seja, ser o que é na verdade, sem a máscara vestida para conseguir aceitação social) por estes dias. Rainhas, reis, animais, personagens diversos ganham vida e caem numa folia que parece não ter fim. E muito menos limites.
Carnaval é a festa das gentes, dos pobres, dos empregados, dos desempregados; enfim, daqueles que, nesses três dias, transgridem as normas, tomam as praças e podem, finalmente, gritar suas dores, alegrias e desejos. Livres! Liberdade em sua forma mais sincera e verdadeira! Atrás da maquiagem, dos véus e das cores, pode-se ser quem quiser: o palhaço, a bailarina, o pirata, a feiticeira, o índio, a cigana, o super-homem, a fada madrinha. Cada um vende seu sonho e vive sua loucura, despido de cotidiano, alheio à preocupação. Até o mais “santinho” e moralista dá uma espiada marota na sacanagem alheia, vai falar que não. É a festa que mais mostra a nossa incoerência de brasileiro: a hora que somos mais perfeitos é justamente na hora da farra.
Mas nem só de folia os dias carnavalescos transcorrem. Há o lado obscuro da festa, que, infelizmente, atormenta a todos, todos os dias e em todos os lugares do mundo. Não é só no Brasil que acontecem a violência, o crime, as atrocidades com a vida. “O país do Carnaval” não é só festa, como muitos estrangeiros ainda acreditam. Aqui, não temos só mulheres sambando e com corpos esculturais: somos um povo bonito, sim, mas com sérias fraturas em diversos lugares (e não me refiro, apenas, a lugares geográficos). O resultado é visto todos os anos no balanço final do Carnaval. Há quem se libere nesse período de qualquer espécie de lei. O imperativo é curtir. O respeito aos próprios limites são relegados à última instância ou talvez à penúltima, pois existe o respeito ao próximo, quase sempre ocupante do posto de lanterninha na escala de valores do carnaval. Por banalidades, descuidos, alta velocidade, pequenas brigas muitas vidas no país do samba chegam a seu fim prematuramente.
Se você é jovem, adolescente, ou já passou da fase, mas a cabeça ainda funciona assim, pense um pouco. Mostre pra todo mundo que você é educado, faz parte de uma geração consciente e que vai mostrar que tudo o que falam por aí e um baita de um exagero. Ou então esquece, mas as conseqüências serão todas suas.
Então, não digo que não é pra aproveitar, faça tudo o que tiver que fazer, mas com consciência e sabendo que ano que vem tem mais. Não queiram só um carnaval em suas vidas, ou que esse seja o último, isso seria trágico. Disse certa vez o compositor Chico Buarque: “No carnaval, esperança que gente longe viva na lembrança. Que gente triste possa entrar na dança. Que gente grande saiba ser criança”. Então pulem, gritem, cantem, dancem, riam muito, respeitem o próximo e não se esqueçam de que “NÃO É NÃO”! Bom carnaval a todos!
Tô Sabendo e Vou falar!
Aaron Fênix