Chamou minha atenção a descoberta recente de dois cadáveres de mulheres assassinadas e carbonizados às margens da BR 040 e a agressão sofrida por outra mulher em uma cidade próxima a nossa. Em uma rápida passada nas páginas policiais pelo Brasil fico estarrecido com o assassinato da jovem estudante Mariana no interior de São Paulo e da educadora infantil torturada e assassinada no Rio de Janeiro, supostamente por um vizinho. Acredito que isso sempre existiu em vastas quantidades, a diferença é que está sendo mais divulgado agora.
Esse tipo de crime não é um fenômeno isolado, mas um vírus cruel que se espalha voraz pela sociedade. O homem não mata ou agride por amor, mas por que não deseja que a mulher ame mais ninguém. Eis a suprema exibição de egocentrismo. Uma leitura breve nas notícias chega aos mesmos lugares comuns que tentam explicar a tragédia: “ele era ciumento”, “ele era agressivo”, “ele estava tentando voltar” e dezenas de outras expressões que, de forma educada tentam atribuir um motivo lógico para o feminicídio e as agressões aproximando-o de um gesto de amor tresloucado quando, na verdade, não há mais amor em tal ato.
Segundo uma parte da imprensa, essas mortes e agressões viram tragédias de um amor que não deu certo, com uma espécie de alerta implícito para “tomem cuidado com quem vocês se relacionam”, como se fosse tão possível prever o ódio quanto seria adivinhar a existência do amor. Não existe uma explicação lógica para esses crimes e tentar encontrá-la é diminuir a gravidade do ato. Esses crimes são um ato de ódio cometido contra uma mulher, e é preocupante que se tente diminuir este fato dizendo que foi um gesto de ciúme ou um desvario amoroso encerrado em tragédia.
Ainda somos escravos de uma visão romântica do mundo. Acreditamos em amores impossíveis, que os sentimentos nem sempre surgem na hora certa e precisam ser “estimulados” por meio da insistência, que as histórias possuem finais felizes e, se não chegamos lá, é porque ainda não terminou. Pior ainda, acreditamos que o amor move os seres humanos, e é pensando assim que tentamos considerar tudo de acordo com os seus termos. Devemos deixar de considerar esses crimes como “ato romântico que deu errado” e sim um crime de ódio. Vemos que há milhares de mulheres que, de alguma forma, sofrem violência nas mãos de seus maridos, companheiros, namorados, pais, irmãos. São muito poucas as que contam a alguém, a um amigo, a um familiar, a um vizinho ou à polícia. As vítimas desse tipo de violência provêm de vários estilos de vida – social, cultural, religioso -, e partilham sentimento de insegurança, isolamento, culpa, medo e vergonha.
A violência contra as mulheres é resultado da crença, fomentada pelo agressor, em culturas de que o homem é superior e de que a mulher que com ele vive é um objeto de posse que ele tratará como muito bem quiser. E isso se agrava na medida em que a própria mulher se inferioriza e se subordina ao homem, se coloca na condição de submissão, como que se obrigada a isso perante o companheiro. A sociedade identifica a gravidade da violência apenas quando ela é praticada de modo ostensivo ou chocante. Infelizmente, precisamos nos apropriar desses desastrosos momentos para debater o tema.
Salve mulheres! Eu vos saúdo! Humilhadas, estupradas, perseguidas, vilipendiadas e forçadas prematuramente ao silêncio eterno, apenas por serem mulheres.
Tô Sabendo e Vou Falar!
Aaron Fênix