A hipocrisia parece ter se tornado o motor da sociedade, sua base, sua condição de existência. Se todos fossem as pessoas que mostram ser no Instagram, Snapchat, WhatsApp, Facebook e Twitter o mundo seria simplesmente sensacional!
Às vezes, parece que vivemos em outro lugar, um lugar aonde os seres humanos são os mais puros, retos e ilibados de todo universo, pois, volta e meia nos deparamos com alguns tendo surtos de moralismos com graus acentuados de caretice e atitudes reacionárias, por vezes, até descabidas diante de certas situações.
A impressão que dá é que as pessoas estão tão viciadas no mundo cor de rosa que inventaram nas redes sociais, que acham que a vida real é tudo lindo e que os seres humanos são todos iguais. Há uma necessidade de se mostrar um cidadão exemplar, respeitador de valores éticos e sociais, solidário, participativo, e que esteja sempre pronto a sair em defesa da parte injustiçada. Mas quem é a parte injustiçada? Sob quais valores éticos e sociais recaem essa defesa? Alguém pode explicar como pode ao mesmo tempo corromper um guarda e lutar contra a corrupção? Como pode ao mesmo tempo falar mal da vida alheia e depois querer linchar a fofoqueira? Tem muita gente querendo se passar pelo que não é apenas para estar bem com a maioria.
A sinceridade e a honestidade diante dos próprios princípios e valores não parecem mais algo tão importante; o que vale mesmo é a percepção dos outros, como lidamos com suas expectativas e o quanto somos capazes de fingir para sermos aceitos. Talvez uma das explicações para escolhas neste sentido seja a dureza da realidade, traduzida na falta de perspectivas que a vida real impõe. Diante disso, criar e viver em uma realidade paralela, colorida, parece a saída ideal para “confortar” e “amenizar” as coisas. Talvez haja tempo mais hipócrita, que não vivi: quando o ateu se ajoelhava perante o papa para escapar da fogueira. Tempo mais farsesco, em que a corte beijava os pés de reis imundos.
É difícil imaginar falsidades maiores que as do século 21. A hipocrisia parece ter se tornado o motor da sociedade, sua base, sua condição de existência. Sem disfarces o mundo convulsiona; o mundo dos políticos, dos fanáticos, dos empresários, dos intelectuais. Toda promessa é deliberadamente enganosa, e, se não o for, decepcionamo-nos. É preciso ser falso para ser célebre. O brasileiro é o povo que mais horas por dia passa conectado às redes sociais: delicia-se com as caras e bocas, as poses de glória. Inveja e se delicia. Então, imita. Se não pode ser realmente bom, por preguiça, pobreza ou pirraça, falsifica-se. Os pregadores da moralidade são imorais, os defensores da virgindade freqüentam bacanais.
Vivemos um momento especialmente podre de nossa sociedade. Crise econômica, violência urbana, falência política, desesperança. É difícil até saber por onde começar a melhorar. Faltam valores. E pode parecer que a indignação aponte um conjunto de valores. Mas não! Indignação hipócrita é uma espécie de cegueira moral. Atualmente, hipocrisia é o ato de forjar sentimentos, comportamentos e virtudes que não se possui. Ocorre quando uma pessoa, incapaz de ser verdadeira, simula condutas e exige do outro aquilo que nem ela mesma possui. Aos poucos esse comportamento se torna um padrão, chegando num nível onde a máscara vira rosto, ficando praticamente impossível separá-los.
Tô Sabendo e Vou Falar!
Aaron Fênix