Causa da violência contra a mulher é machismo estruturado politicamente, segundo especialistas.
“Estamos no mínimo há 30 anos falando a mesma coisa e nada acontece. Não somos escutadas. Enquanto não tivermos democracia nas relações cotidianas de gênero, não teremos relações igualitárias em nenhum nível. A violência vem dessas relações hierárquicas cotidianas”. O desabafo, da coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher da UFMG (Nepem), Marlise Miriam de Matos Almeida, foi proferido durante audiência pública sobre feminicídio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na quinta-feira (8/8/19).
Segundo ela, a violência vem de um ciclo perverso, no qual os homens mantêm privilégios, numa sociedade politicamente hierárquica. “O agressor pode até ir preso, mas a origem da violência é intocada. Quarenta por cento dos lares brasileiros são sustentados por mulheres. A demissão da paternidade e abandono do lar são a origem da violência. Há 100 anos o feminismo fala do privilégio masculino e nada acontece”, explicou.
A diretora de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de Belo Horizonte, Viviane Coelho Moreira, disse que foi feito um diagnóstico entre as 12 secretarias da Prefeitura, compostas majoritariamente por homens em suas diretorias. “Isso acarreta que as políticas públicas não levem em consideração as demandas das mulheres, prejudicando o acesso delas aos direitos. A sociedade é machista e patriarcal e isso leva a um modus operandi que impede o acesso das mulheres ao poder”, ressaltou.
Feminicídios aumentam em Minas
Apesar da Lei do Feminicídio (Lei 13.104, de 2015) ser recente, o Atlas da Violência Doméstica 2019, com dados de 2017, já indica aumento nas taxas. Pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Krislane de Andrade Matias afirmou que houve crescimento de mulheres mortas por armas de fogo de 28% dentro na residência e 6% fora, de 2016 para 2017. Além disso, a taxa de homicídios brasileiros é de 3,2 homicídios por 100 mil habitantes, sendo que a de mulheres negras é de 4,1. “As mulheres são majoritariamente assassinadas por pessoas próximas e aos sábados, em ambiente doméstico. E as delegacias só funcionam de segunda a sexta. Mulheres negras têm risco maior de morrerem em decorrência da violência doméstica. E esse risco aumentou, enquanto que entre as não negras estabilizou ou caiu”.
Assessoria de Imprensa da ALMG
Fotos: Flavia Bernardo