Neste país em que a política quer transformar as mãos das pessoas em armas para matar, esses bombeiros militares e civis fizeram de suas mãos, mergulhadas na lama mortal, um instrumento de paz e de esperança de poder encontrar vida. Talvez tenha sido porque os brasileiros vivem um momento de perplexidade e poucas esperanças. Talvez porque os resíduos tóxicos da mina de Brumadinho, que engoliu tantas vidas inocentes, sejam vistos como metáfora política do país, envolvido na lama de corrupções, violências e desamparo social, a verdade é que poucas vezes tantos brasileiros se identificaram com esses bombeiros mergulhadores de vida.
Foram esses bombeiros anônimos, mal pagos, que não hesitaram em arriscar a própria vida para salvar a dos outros, que nos ofereceram um pouco de oxigênio quando começávamos a desconfiar de tudo e de todos. Os bombeiros conseguiram o milagre de unificar por um instante um país quase em guerra.
A política não é, certamente, o que hoje entusiasma os brasileiros céticos de um lado e do outro. A política, com todas as suas corrupções e ambigüidades, não está sendo no Brasil um catalisador de esperanças. O que o país precisa é acreditar que ainda é possível encontrar pessoas comuns e anônimas capazes de oferecer um exemplo de abnegação e de luta para salvar vidas e não para humilhá-las e sacrificá-las.
A eficiência dos bombeiros, a rapidez, simplicidade e objetividade com que atendem aos pedidos, a educação com que atendem ao público. A coragem é real e existe uma equipe que passou por um treinamento intensivo para não errar, pois um único erro pode ser a diferença entre a vida e a morte das pessoas que dependem desse profissional. Quando penso na eficiência dos bombeiros fico desejando que este eficaz serviço público seja modelo para todos os outros serviços públicos do Brasil. Para ostentar esta farda é preciso ter muito mais do que sonhos, é preciso coragem para ir aonde ninguém quer ir, para colocar em risco a vida por pessoas que nunca viu. Para ser bombeiro o corpo precisa saber que não há diferença entre a madrugada fria ou o verão quente, e que entre a água e o fogo… todos se igualam ao som das sirenes. É preciso saber que não vai ficar rico, que os fracassos serão fantasmas que vão perseguir para sempre e o sucesso são nuvens que se dissipam ao amanhecer.
Ah! Meu Deus! Quero um bombeiro no Planalto Central. Quero outro bombeiro no Palácio da Liberdade. Quero outro bombeiro na Cemig, nos parques e jardins, na Copasa e em todas as outras instituições criadas para atender o povo em suas necessidades de água, luz, limpeza, segurança.
Esse Brasil está vivo nos corações daqueles que ainda são capazes de se oferecer para salvar a vida de pessoas anônimas como eles. São, sem dúvida, semeadores de paz, capazes de nos emocionar quando acreditávamos que o ceticismo já nos havia secado o coração.
Que Deus sempre proteja esses heróis da vida real!
Tô Sabendo e Vou Falar!
Aaron Fênix
Cronista do Fato Real